terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

So nice, so smart


Relógio. É novo, esse. É roxo também, mas é o que Paula trouxe do intercâmbio, e AM/PM, o que me deixa ainda um pouco confusa no estado alfa matutino. Mas eu não estava mais alfa, na verdade, eu estava bem alerta. Pra lá de delta. Doze e vinte e quatro. Seis minutos pro fim daquilo que poderiam chamar de aula. Literatura. Gosto, e bastante, mas hoje o pós haveria de ser melhor que quaisquer escritores Realistas. Cinco minutos. Todos entediados e querendo ir embora, mas aparentemente só a professora não se lembrava ou fingia não saber isso. Na verdade, acho que todas elas sabem disso. Se fingem de bem amadas, mas sabem que no fundo, ninguém ali realmente está prestando atenção a qualquer coisa que ela diga. Ela pode contar do AVC do filho, que as pessoas são capazes de tomar nota em um Post-it. Mas, sinceramente? Que se fodesse o AVC do filho dela naquele momento, faltavam eram dois minutos. Minha mochila estava fechada, e nas costas, minha posição já era de largada e riste, e nos meus bolsos somente os dois pedacinhos de papel que seriam capazes de mediar a minha imensa felicidade. Quatro segundos, três, dois, um. E... Claro que o sinal não tocou. Minha vida não é novela, High School Musical ou HQ e, pra variar o relógio estava marcando as horas erradas, e lógico, por ser novo não sabia me orientar. Mas, tudo bem, agora era esperar. Adrenalina, a qualquer momento. E foi, a qualquer momento. Deve ter demorado bem uns 2 minutos ainda, mas, não me importava mais. Desci em disparada, com Paula-do-relógio no encalce, e cheguei ao pátio, onde finalmente tomaria o carro-rona da mesma para o meu querido destino. O destino não muito longe de mim, e nem muito complicado de se chegar. Mas eu moro na Bahia, e cá pra nós, andar, o mínimo que seja, já te transforma em um grande e amarelado cuzcuz molhado. Não que eu já tenha visto um molhado. Mas é o que me disseram. Carro-rona demorou. Olhei pro lado, e as pessoas que haviam ficado de ir comigo ao querido destino não estavam no meu campo de visão. Mas, naquele momento, não me importei, sinceramente. Eram excelentes companhias é verdade, mas eu estava com a melhor companhia de todas. E essa companhia é muito batutaparceirafiel. Me atura a 16 anos e, com fé em Tupã, pelo menos mais uns 80 aí.
Chego onde queria com mais ou menos 20 minutos de atraso, de acordo com meu compromisso inadiável com a minha célebre pessoa. Mas, minha célebre pessoa é maleável. Saio do carro e corro, atravesso a rua. E descubro que já não sei mais andar naquele lugar, e que as portas trocaram de lugar, ou sou eu que ando me desatualizando completamente, a cada dia. Eu achei que só ler jornais e ouvir ao rádio me bastavam, mas eu acho que vou ter que voltar pra caixinha colorida com sons. Subo as escadas correndo, entro na fila sem pessoas, me deparo, diante do rapaz com sorriso enfadonho e sonolento e mando:
- Juno, 13hs
Meu destino estava selado, e minha felicidade firmada. Cinema. Sozinha. Terça-feira. Treze horas. Não poderia estar mais feliz. Ou até poderia, mas naquela hora, aquilo me bastava. Seis reais na carteira, e - relógio - 2 minutos e meio pra arrumar algo bom para comer. Meu estômago não estava muito legal, e estava com muita vontade de comer comida com cara de comida e alguns verdes por cima. Em trinta segundos, acredito, rodei toda a praça de alimentação e nada que me atenuasse ou prendesse minha vida ou gula, me deteve. Ao faltarem 14 segundos optei drásticamente pelos sanduíches da Subway. Poderia passar 8 anos e meio descrevendo a demora e a raiva que aquele lugar estava me dando, mas acredito que não caiba, ou que meu coração partido não tem forças pra lembrar. Sei que com quatro minutos de atraso larguei os seis reais no caixa, mesmo não sendo minha vez, estiquei minha mão e peguei o sanduíche com a maior concentração de alface americana que alguém já pôde ver na vida. E eu corri. Ô CORRI. Subi as escadas rolantes que não respeitam a falta de um sinal localizador de direita, feito uma louca. A sala era a 4, direita ou esquerda, pensava com pressa, direita ou esquerda. Um, dois, três, apostei na direita, e pimba, direita. Sorri pro bilheteiro. Velho brotherzinho. Ainda lembra de mim por cosplays e essas coisas. Correndo. Abro a porta. Barulhos e luz apagada. MALDITO MUNDO. Não, mas nada haveria de destruir minha nobre felicidade romântica e sozinha. Sozinha, e não, solitária.
O cheiro, hm, o cheiro do cinema. É pipoca mofada, é peido em poltrona, é naftalina, é gente suada. Ah, é uma delícia. Minhas pupilas dilatam (?) e eu pude observar melhor meus colegas de sessão. Cinco. Aham, um, dois, três, quatro, e hm, eu era a função metalingüística do colega número cinco. E todos sozinhos. Assim como eu. Cada um disposto em um hemisfério daquela sala enorme e fria. Ainda bem, me arranjei no centro médio inferior e pûs meus olhos na tela, e eis quem me sorri: Jim Sturgess. Em um filme que eu não pude ver o nome, mas que eu acredito ter visto o Kevin Bacon e umas cartas de Poker. Que delícia de visão em minha frente. Mas que beleza. Agora eu tinha certeza que não precisava de mais nada.
Doce ilusão, precisava. O sanduíche e o filme pelo qual eu tinha pagado cinco reais e cinquenta por. Ponho minha mochila ao meu lado. Velha parceirinha. Abro a embalagem verde do meu mantimento. Sinto o cheiro e vejo as folhas amigas saltando pra fora. Hmm. Sem tomates, pouco azeite e médio orégano. Hmmm. Tiro a atenção do sanduíche e jogo para a tela. Barulhinho da FOX. Vai começar. É agora. Mordo um pedaço muito grande afim de terminar logo aquilo, pra que minha atenção fosse toda direcionada ao meu objeto de afeição. Num instante aquele monte de alface vira parte de mim, e num instante um pouco maior, aquele monte de imagem, som e emoção iria fazer parte de mim também. Mas aí, eu iria ter que esperar, e bem, já tinha pagado pra ver.
Música. Fecha os olhos. Abre os olhos. Pé na cadeira vazia da frente. Cheiro. Barulhinho da máquina de projeção. Tira casaco. Põe casaco. Vontade de mandar mensagem. Comentar. Passa a vontade. Fecha o olho. Sente denovo. Olha. Acha ruim. Acha bom. ACHA BOM. Acha ruim. Música. Música. MÚSICA. Acha parecida com. Acha desparecida com. Acha ruim. Acha chata. Acha bom. Acha legal. MÚSICA. Risada senil grande e risível. Põe casaco. Já está com casaco. Puxa capuz. Morde cordinha. Solta cordinha. Nervoso. Encolhimento. Tampa olho. Destampa olho. ABRE OLHO. Fecha o olho. Música. Música. Abre o olho. Ri. Ri denovo. Acha bonito. Acha legal. Acha bonito. Acha muito bonito. Acha bonito de explodir. Acha feio. Acha desnecessário. Tira o pé da cadeira. Reclina corpo pra frente. Pra trás. Agonia. Pega celular denovo. Lembra que não tem crédito. Guarda. Por cima da mochila. Lembra que pode esquecer. Lembra que tá pouco se fodendo. Mas, guarda. Olha. Baixa o capuz. Sobe o capuz. Morde a cordinha. Com mais força. COM AINDA MAIS FORÇA. Rosto vai ficando vermelho. Chora. Chora. Chora. CHORA. CHORA. Chora. CHORA. Chora. Sorri. Chora. Chora. Sorri. Se enterra no casaco. Morde o casaco. Fecha o olho. MÚSICA. Abre o olho. Música. Rosto vermelho. Vento. Frio. Sorriso. Música. Música. Música. Legenda errada.
Música.
Vento.
Cheiro.

Fecha.

Abre.



Créditos finais.


Agora aquilo tudo fazia parte de mim também. E assim que levantei, meu andar já estava diferente e tudo também ao meu redor. É claro, o efeito poderia passar em 5, 10 minutos, mas não importava. É gostoso levantar e deixar na poltrona uma outra pessoa.

E sim, houve uma pequena fila para descer, nós cinco disputávamos degraus. E a camisa do colega número 3, logo que furou a ordem a minha frente, foi bastante emblemática quando expeliu as palavras: YOU CAN DO IT bem assim, no meu rosto, de sopetão. Não soube dizer muito bem o que aquilo poderia estar querendo me dizer naquele momento, ou porque aquilo fazia tanto sentido e me deu tanta alegria. Não sei o quê, o porquê, a ligação direta ou sem o menor sentido com a experiência de duas horas que havia acabado de ter, e nem como. Eu só sei, de verdade, mais do que nunca, naquele momento, depois daquilo, ou até mesmo, hoje: eu sei que eu



posso. :)
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2 comentários:

ruffles disse...

PORRASSSS! FÃ NÚMERO UM!!!
ídala de vida, razão de viver, inspiração e voz da minha cabeça e tudo mais. amo mais q a vida elevado ao infinito mais dois!

hei de ler todos e gozar. amo-te!

Anônimo disse...

me entender é complicado, cara.
precisa entender de antônimos e absurdos.

baixei a trilha sonora de juno *-*