sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

So nice, so smart


Relógio. É novo, esse. É roxo também, mas é o que Paula trouxe do intercâmbio, e AM/PM, o que me deixa ainda um pouco confusa no estado alfa matutino. Mas eu não estava mais alfa, na verdade, eu estava bem alerta. Pra lá de delta. Doze e vinte e quatro. Seis minutos pro fim daquilo que poderiam chamar de aula. Literatura. Gosto, e bastante, mas hoje o pós haveria de ser melhor que quaisquer escritores Realistas. Cinco minutos. Todos entediados e querendo ir embora, mas aparentemente só a professora não se lembrava ou fingia não saber isso. Na verdade, acho que todas elas sabem disso. Se fingem de bem amadas, mas sabem que no fundo, ninguém ali realmente está prestando atenção a qualquer coisa que ela diga. Ela pode contar do AVC do filho, que as pessoas são capazes de tomar nota em um Post-it. Mas, sinceramente? Que se fodesse o AVC do filho dela naquele momento, faltavam eram dois minutos. Minha mochila estava fechada, e nas costas, minha posição já era de largada e riste, e nos meus bolsos somente os dois pedacinhos de papel que seriam capazes de mediar a minha imensa felicidade. Quatro segundos, três, dois, um. E... Claro que o sinal não tocou. Minha vida não é novela, High School Musical ou HQ e, pra variar o relógio estava marcando as horas erradas, e lógico, por ser novo não sabia me orientar. Mas, tudo bem, agora era esperar. Adrenalina, a qualquer momento. E foi, a qualquer momento. Deve ter demorado bem uns 2 minutos ainda, mas, não me importava mais. Desci em disparada, com Paula-do-relógio no encalce, e cheguei ao pátio, onde finalmente tomaria o carro-rona da mesma para o meu querido destino. O destino não muito longe de mim, e nem muito complicado de se chegar. Mas eu moro na Bahia, e cá pra nós, andar, o mínimo que seja, já te transforma em um grande e amarelado cuzcuz molhado. Não que eu já tenha visto um molhado. Mas é o que me disseram. Carro-rona demorou. Olhei pro lado, e as pessoas que haviam ficado de ir comigo ao querido destino não estavam no meu campo de visão. Mas, naquele momento, não me importei, sinceramente. Eram excelentes companhias é verdade, mas eu estava com a melhor companhia de todas. E essa companhia é muito batutaparceirafiel. Me atura a 16 anos e, com fé em Tupã, pelo menos mais uns 80 aí.
Chego onde queria com mais ou menos 20 minutos de atraso, de acordo com meu compromisso inadiável com a minha célebre pessoa. Mas, minha célebre pessoa é maleável. Saio do carro e corro, atravesso a rua. E descubro que já não sei mais andar naquele lugar, e que as portas trocaram de lugar, ou sou eu que ando me desatualizando completamente, a cada dia. Eu achei que só ler jornais e ouvir ao rádio me bastavam, mas eu acho que vou ter que voltar pra caixinha colorida com sons. Subo as escadas correndo, entro na fila sem pessoas, me deparo, diante do rapaz com sorriso enfadonho e sonolento e mando:
- Juno, 13hs
Meu destino estava selado, e minha felicidade firmada. Cinema. Sozinha. Terça-feira. Treze horas. Não poderia estar mais feliz. Ou até poderia, mas naquela hora, aquilo me bastava. Seis reais na carteira, e - relógio - 2 minutos e meio pra arrumar algo bom para comer. Meu estômago não estava muito legal, e estava com muita vontade de comer comida com cara de comida e alguns verdes por cima. Em trinta segundos, acredito, rodei toda a praça de alimentação e nada que me atenuasse ou prendesse minha vida ou gula, me deteve. Ao faltarem 14 segundos optei drásticamente pelos sanduíches da Subway. Poderia passar 8 anos e meio descrevendo a demora e a raiva que aquele lugar estava me dando, mas acredito que não caiba, ou que meu coração partido não tem forças pra lembrar. Sei que com quatro minutos de atraso larguei os seis reais no caixa, mesmo não sendo minha vez, estiquei minha mão e peguei o sanduíche com a maior concentração de alface americana que alguém já pôde ver na vida. E eu corri. Ô CORRI. Subi as escadas rolantes que não respeitam a falta de um sinal localizador de direita, feito uma louca. A sala era a 4, direita ou esquerda, pensava com pressa, direita ou esquerda. Um, dois, três, apostei na direita, e pimba, direita. Sorri pro bilheteiro. Velho brotherzinho. Ainda lembra de mim por cosplays e essas coisas. Correndo. Abro a porta. Barulhos e luz apagada. MALDITO MUNDO. Não, mas nada haveria de destruir minha nobre felicidade romântica e sozinha. Sozinha, e não, solitária.
O cheiro, hm, o cheiro do cinema. É pipoca mofada, é peido em poltrona, é naftalina, é gente suada. Ah, é uma delícia. Minhas pupilas dilatam (?) e eu pude observar melhor meus colegas de sessão. Cinco. Aham, um, dois, três, quatro, e hm, eu era a função metalingüística do colega número cinco. E todos sozinhos. Assim como eu. Cada um disposto em um hemisfério daquela sala enorme e fria. Ainda bem, me arranjei no centro médio inferior e pûs meus olhos na tela, e eis quem me sorri: Jim Sturgess. Em um filme que eu não pude ver o nome, mas que eu acredito ter visto o Kevin Bacon e umas cartas de Poker. Que delícia de visão em minha frente. Mas que beleza. Agora eu tinha certeza que não precisava de mais nada.
Doce ilusão, precisava. O sanduíche e o filme pelo qual eu tinha pagado cinco reais e cinquenta por. Ponho minha mochila ao meu lado. Velha parceirinha. Abro a embalagem verde do meu mantimento. Sinto o cheiro e vejo as folhas amigas saltando pra fora. Hmm. Sem tomates, pouco azeite e médio orégano. Hmmm. Tiro a atenção do sanduíche e jogo para a tela. Barulhinho da FOX. Vai começar. É agora. Mordo um pedaço muito grande afim de terminar logo aquilo, pra que minha atenção fosse toda direcionada ao meu objeto de afeição. Num instante aquele monte de alface vira parte de mim, e num instante um pouco maior, aquele monte de imagem, som e emoção iria fazer parte de mim também. Mas aí, eu iria ter que esperar, e bem, já tinha pagado pra ver.
Música. Fecha os olhos. Abre os olhos. Pé na cadeira vazia da frente. Cheiro. Barulhinho da máquina de projeção. Tira casaco. Põe casaco. Vontade de mandar mensagem. Comentar. Passa a vontade. Fecha o olho. Sente denovo. Olha. Acha ruim. Acha bom. ACHA BOM. Acha ruim. Música. Música. MÚSICA. Acha parecida com. Acha desparecida com. Acha ruim. Acha chata. Acha bom. Acha legal. MÚSICA. Risada senil grande e risível. Põe casaco. Já está com casaco. Puxa capuz. Morde cordinha. Solta cordinha. Nervoso. Encolhimento. Tampa olho. Destampa olho. ABRE OLHO. Fecha o olho. Música. Música. Abre o olho. Ri. Ri denovo. Acha bonito. Acha legal. Acha bonito. Acha muito bonito. Acha bonito de explodir. Acha feio. Acha desnecessário. Tira o pé da cadeira. Reclina corpo pra frente. Pra trás. Agonia. Pega celular denovo. Lembra que não tem crédito. Guarda. Por cima da mochila. Lembra que pode esquecer. Lembra que tá pouco se fodendo. Mas, guarda. Olha. Baixa o capuz. Sobe o capuz. Morde a cordinha. Com mais força. COM AINDA MAIS FORÇA. Rosto vai ficando vermelho. Chora. Chora. Chora. CHORA. CHORA. Chora. CHORA. Chora. Sorri. Chora. Chora. Sorri. Se enterra no casaco. Morde o casaco. Fecha o olho. MÚSICA. Abre o olho. Música. Rosto vermelho. Vento. Frio. Sorriso. Música. Música. Música. Legenda errada.
Música.
Vento.
Cheiro.

Fecha.

Abre.



Créditos finais.


Agora aquilo tudo fazia parte de mim também. E assim que levantei, meu andar já estava diferente e tudo também ao meu redor. É claro, o efeito poderia passar em 5, 10 minutos, mas não importava. É gostoso levantar e deixar na poltrona uma outra pessoa.

E sim, houve uma pequena fila para descer, nós cinco disputávamos degraus. E a camisa do colega número 3, logo que furou a ordem a minha frente, foi bastante emblemática quando expeliu as palavras: YOU CAN DO IT bem assim, no meu rosto, de sopetão. Não soube dizer muito bem o que aquilo poderia estar querendo me dizer naquele momento, ou porque aquilo fazia tanto sentido e me deu tanta alegria. Não sei o quê, o porquê, a ligação direta ou sem o menor sentido com a experiência de duas horas que havia acabado de ter, e nem como. Eu só sei, de verdade, mais do que nunca, naquele momento, depois daquilo, ou até mesmo, hoje: eu sei que eu



posso. :)
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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Sim

Fevereiro tá meio eterno, não acham não? Na verdade, eu pude constatar isso hoje. Ou na verdade, acho que eu sempre soube. Essa porra não acaba. E é incrível como tudo pode mudar em tão pouco tempo. 25 dias corridos de um mês que é por sua natureza tão pequeno e normalmente, pra mim, da ala soteropolitana que não curte a folia na avenida passa de forma absurdamente rápida e bege. Justamente por não ter nada que exalte o fevereiro, em sua essência. Inusitado ter sido tão cheio e ao mesmo tempo tão empobrecido de substâncias palpáveis que pudessem preencher o período em si. Acho só que foi intenso. Intenso no que diz respeito a sua forma, e simples no caráter funcional.
Ter voltado a rotina acho que tomou muita parte do meu mês, e tornou de cada um dos dias dele ainda mais extensos, fazendo com que, impressionantemente as semanas passasem cada vez mais rápido e mesmo assim, os dias não. É como se fossem 8 semanas no lugar das habituais 4. Ou até mais. Não sei se é a carga intensa de coisas que esse mês trouxe. Eu não sei, na verdade, eu acho que não. Ou foi. Sou muito profissional, hein. Minha opinião muda de 4 linhas pra baixo. Mas é verdade, sinceramente acho que foi mais, justamente, pelas mudanças que ele trouxe. Em todos os aspectos possíveis. Não me reconheço de janeiro. Não sei mais quem é aquela pessoa. Ainda é a mesma. Mas, mudou. Muito, muita coisa em pouco tempo. Prioridades, vontades, idéias, basicamente a minha formação. Acho que isso pode até ser bom, não é? Não sei se é existencialismo barato mesmo, ou se é porque eu engordei nessas férias. Mas tá tudo parecendo maior. Não mais importante, ou mais problemático. Só maior. Ganhou lente, e isso eu digo a respeito de tudo. Acho muito que foram os quilos a mais.
Eu nunca fui muito de dizer que acreditava em destino, até porque na verdade, eu nunca acreditei. Mas de uns tempos pra cá eu tenho passado a acreditar. Acho que destino não é a palavra certa. Merecimento e indução de força, talvez. Por mais pragmático e profaninho que possa parecer, no final das contas a gente recebe o que merece. Sempre. Mesmo que demore. Meu carma dos 14 anos, eu recebi em 2008, aos 16. Meu carma de hoje eu recebo aos 18. Não sei se estou disposta a esperar muito não, mas eu não tenho muito outra coisa a fazer. Eu tenho pena da porra do destino, é muita pressão e expectativa em cima dele. Desculpa de gordo ocioso, ou de gente preguiçosa é justamente como a minha. Não colocar a vida pra frente, ou tomar as rédeas dela, por confiar em um cosmo maior que vai tomar conta de tudo.
O que é verdade, no final das contas, ele sempre toma. O que nos resta, é sentar e esperar. Mas o ser humano, como uma espécie errata, cheia de falhas, defeitos e necessidades, no final das contas, só quer ver seus irréfutos esforços reconhecidos. Ou saber que atos falhos, despercebidos e simples, podem ter seu grande valor, e que os maiores não's sempre ganham nova conotação e viram nunca's ou talvez's. Que em todo caso são melhores que quaisquer negativas assim, puras. Três letras nunca foram saudáveis em uma discussão. De qualquer forma, a melhor de todas as palavras tem só três, um, dois, três letrinhas. E já é o bastante. :)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

15 ml de pura criminalidade


Eu sempre achei o lápis um objeto muito esquisito. Não pelo que ele faz, que é bastante esquisito também, mas pelo seu formato e basicamente pela sua formatação. É cilíndrico, tem uma mina de grafite dentro e lascas de madeira que são medievalmente apontadas por um objeto ainda mais estranho, o apontador escolar, com sua navalha encoberta por uma caixinha colorida afim de esconder toda a sua periculosidade.
Meu colégio este ano lançou a novidade gentil que é claro, como toda novidade gentil, causou muito alarde: está proibido o uso de corretivos nas imediações da escola. Eu não sei até onde essa medida está ligada ao fascismo sutil que nos faz obrigatoriamente temermos errar, ou no que eles alegam, o vandalismo e a destruição do patrimônio de uso comum dos alunos. Mas ok, estamos falando de um patrimônio de uso comum, e como eles mesmo dizem, propriedade daqueles que fazem parte desta 'família' (risôôôôus). Mas isso não cabe a mim, afinal, na primeira oportunidade que tiverem, eles hão de revistar meu material e descobrir ali duas armas brancas bruscamente ofensivas para o convívio com meus colegas. Sendo uma delas bem branca, e líquida. Eu só espero sinceramente que eles não confisquem o apontador da caixinha roxa. Me tomou 4 dias de espera na lista de reserva da Saraiva.
Tem quem diga que depois que todo esse inferno chamado ensino médio passar, eu vou é sentir falta. Bem, tem quem diga também que hoje eu reclamo porque não tenho com que comparar. Bem, e tem quem diga que tudo isso é mentira. E quem diz isso sou eu.
Tenho plena ciência, ou pelo menos uma idéia bastante abrangente a respeito do que me espera fora dos muros confortáveis e acalentadores do lugar onde estudo. E se não tenho tanta ciência assim, eu troco meus 2 remanescentes anos por uma chance de descobrir o que me aguarda. Com toda a certeza que eu guardo nestes míseros metro e sessenta e oito. Na verdade, eu acho que eu troco qualquer coisa por estes 2 anos.
Aceito cartão, ticket alimentação, vale-transporte, apontadores e corretivos. Líquidos ou em forma de canetinha.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

10 anos depois dos 6

Eu tinha seis anos de idade quando, creio eu, escrevi minhas primeiras palavras, mas hoje, penso que talvez tenha desaprendido a escrever. Eu não sei até onde isso foi uma conseqüência do meu desleixo, ou até mesmo uma corrupção do ensino médio dos colégios particulares. Eu prefiro acreditar que tenha sido a segunda opção. E partindo deste pressuposto (por sinal, palavra-chave garantia de uma boa nota em uma dissertação escolar, corretores adoram um dígrafo), que eu venho aqui pra tirar as ferrugens dos meus dedos, passar álcool iodado nas juntas, e lubrificante nas sinapses.
Não é que eu não goste. Na verdade eu gosto, e muito. Demais até. E faço disso, escrever, uma forma de descarga. Sendo assim, enquanto as pessoas têm seus gurus espirituais, seus cachorros ouvintes, seus melhores amigos em coma terminal, hoje, eu tenho: as minhas palavretas.
E assim, eu pretendo com isto, banalizá-las, vulgarizá-las, fazer delas publicas, ou até mesmo pessoais mas pelo menos um pouco mais descarregadas, porque ultimamente o tanto que elas tem ficado nas preliminares, tem sido absurdo.
E geralmente, tenho o vício, costume, mania, hábito, péssimo hábito ou falta de escolha de absolutamente detestar tudo que escrevo um dia depois, ao contrário das minhas fotos. Incrível como venero o meu eu de segunda a tarde.
Eu não sei fazer parágrafos. Ou melhor, sei. Mas na verdade eu acho que eu não gosto muito de parágrafos, ou separações. Qualquer coisa que envolva distanciamentos muito longos tende a ser pouco legal.
É difícil eu me lembrar com muita clareza do começo das coisas. Das primeiras impressões, ou das primeiras imagens. Não muito claramente. Exceto as que chamam muita atenção. Portanto, eu gostaria, mas não lembro minha primeira respiração, minha primeira frase, nem ao menos a primeira palavra escrita por mim, mas, partindo do colégio pequeno, de oito alunos que eu me alfabetizei, deve ter sido algo parecido com: ‘Lavagem de dinheiro’.
Queria lembrar, mas provavelmente eu me envergonharia, como tudo que eu ejeto e deixo pra trás, mas, as vezes é melhor ficar com essa boa memória ilusória de que a primeira vez que meu lápis tocou um papel as palavras que saíram foram boas. Tão boas que eu nem pensaria em bons exemplos pra tornar isso mais claro.
Em todo caso, dessas primeiras palavras eu vou ter que me lembrar.
Não porque foram importantes, mas porque o Blogspot tem uma tecnologia de ponta chamada: arquivo.