sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Capivara

‘Só uma noite’, foi o que ela pensou pela última vez tentando se convencer daquilo que ela estava prestes a fazer, o crime que estava prestes a cometer. Era só por uma noite, não poderia ser tão errado assim, poderia?
Olhou-se no espelho e checou mais uma vez como estava aparentando. Esplendida. Maravilhosa. Nunca havia se visto tão bonita quanto essa noite. A noite em que tudo mudaria, ou melhor, a noite em que tudo poderia mudar. Era melhor não pôr tanta pressão assim numa única ocasião. Seus seios pequeninos se encontravam de forma delicada no decote em V que havia conseguido, o vestido caia bem em seu corpo curvilíneo e suas unhas estavam bem pintadas. Nada poderia dar errado, era a saída de mestre para os problemas que estavam a perturbando. ‘Não vai fazer tão mal assim, vai? Uma noite só.’
Contrariava todas as suas doutrinas, éticas e dogmas pessoais estar ali naquela noite, com aquelas pessoas, fazendo aquilo. Era a primeira vez e provavelmente seria a última. Deixou pra lá todos os pensamentos equivocados e temerosos e entrou naquele táxi a fim de mudar de vez por todas o rumo da sua vida.
Ia ser a última vez que ela iria deixar de fazer algo por pensar em si mesma como alguém que não merecesse, ia ser a última vez que ia deixar outras pessoas falarem por ela, mesmo que por atitudes. Ia ser só a última vez em que ela seria notada por qualquer outra razão que não seus atributos físicos. Só assim que funcionaria a partir de agora.
Pediu que o motorista parasse um pouco antes da entrada pra que pegasse um trecho a pé, sempre gostara de andar com o vento nas costas, até mesmo pra entender melhor o que se passava debaixo de todos aqueles cabelos.
Definitivamente não era sono que estava sentindo, era uma dor pesada que fazia com que suas pálpebras doessem e seu andar ficasse ainda mais pesado. Eram os 19 anos de inércia finalmente ficando pra trás, precisava de um pouco de paciência com seu corpo e sua mente. Ficar em casa, deitada, remoendo, não adiantaria de muita coisa.
Aos poucos, avistava de longe a casa onde tudo aconteceria. O crime estava prestes a ser cometido, finalmente estava fazendo algo por si. Finalmente.

2 comentários:

Amanda Oliveira disse...

É como poder voar!

Heinz Ferdinand disse...

Sua mãe estava te enganando.... você é menina with devil's eyes