quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Volatilidade do melão.



Eu adoro melancias. E isso não é de hoje.

Na verdade isso é de uma hora atrás (guardadas as devidas proporções, coloque a hora numa regra de 3, na linha com tipo, 2 anos, eu acho. ah, sei lá; foda-se). Elas vivem cheias de água, os pedaços de cima não tem muitos caroços e ela é muito charmosa e bonita. Sem contar com o excelente nome inglês que ela tem: Watermelon. ÁGUA E MELÃO. MELÃO E ÁGUA. Não que eu goste muito do melão (nem da bala), mas a água é genial. Ainda mais genial é a quantidade de água que escorre da sua boca no momento em que você come o melãodeágua.

Eu, pobre alma, certa vez, dei de comer melancia antes de sair para algum lugar com regras indumentárias de vestimenta que requerisse roupas inteiramente alvas e engomadas (leia-se: escolinha de segundo grau), pois então, eu não comi aquela melancia. Eu bebi-a. Inteiramente. Tendo espasmos e contrações de prazer à cada mordida que não contivesse um caroço. Foi incrível. E é claro, deixei que minha blusa saboreasse daquele prazer. Ela aproveitou muito. Eu, inocente que sou, achei que a água da melancia era como aquela paradinha rosa da Química que o broder do laboratório joga na blusa da gente e não mela porque é volátil. Mas não.

Aparentemente melancia não é volátil. A farda do Sartre COC sabe disso até hoje. E esse hoje tem umas duas horas, sem regras de 3.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Luz para Todos.


As ruas são iluminadas por postes.
Existem fatos constatáveis e existem verdades incontestáveis. Eis um caso genericamente incontestável: as ruas são iluminadas por postes.
Todos os dias, bem cedinho, enquanto o frescor de pinho ainda paira no ar e o monóxido de carbono dos ônibus ainda não formam sua saborosa crosta fétida, os postes estão todos apagados. O sol acabou de raiar e as pessoas por conseqüência também, o frescor de pinho vai embora, a manteiga e o café vão tomando conta do ar, enquanto isso as ruas continuam a-lunas. Não demora muito e o ritmo da manhã começa a tomar mais fôlego e a maioria dos seres diurnos das cidades começam a sair de suas tocas mobiliadas e pôr suas fuças pelas portas e janelas. Mas, as ruas continuam apagadas. Não é preciso nem mais duas horas pras calçadas estarem amontoadas de pressas e licenças, e os habitantes perenes estarem proferindo seu gerundês sem sentido a fim de continuar fazendo, ou continuar mantendo metas ou combustíveis para teimarem em acordar e repetirem seus rituais sagrados que pouco envolvem verdadeiros acasalamentos ou passagens alegres. Enquanto isso, os postes continuam apagados.
A tarde se arrasta e o ocaso vai chegando como quem pede desculpas por surgir. O céu ainda guarda um azul esquisito, indefinido e contestável.
Perto do fim do dia, a aura e as vibrações referentes às imensas despedidas de fim de expediente tomam conta do ar, antes tão ocupado. Agora é simplesmente cansado e cheio de vontades. Sopas, sexo, notícias, telefonemas, telejornais, pães, músicas e utópicas oito horas de sono para um bom recomeço. E bem devagar, na mesma velocidade com que as pessoas se arrastam pelas ruas, as luzes vão se acendendo. Poste por poste, luz por luz, minuto a minuto. Pros mais atentos, é interessante reparar como a tarde vai embora preguiçosa, dando lugar à noite pesada. Poucos reparam e poucos o valor devido à iluminação dada às ruas. Sem elas os becos escuros propícios à estupros seriam ainda mais escuros e ainda mais propícios. Sem elas a vida noturna das cidades grandes, seria uma morte. Sem elas pouco do que se conhece de noite, seria conhecido. Talvez a Lua ganhasse um posto de destaque maior, quem sabe uma capa de revista ou uma nomenclatura mais imponente, mas o fato é que enquanto isso não acontece, temos a iluminação das ruas, e o pouco de importância que é dada a ela.
E as pessoas passam, e voltam à suas valas de forma mecânica, sem notar que dez metros acima delas existe uma fonte de energia muitíssimo poderosa que toma conta de todas as suas vidas há muitos anos. E a atenção dada à essas lâmpadas ou candelabros elétricos é tão remota quanto a atenção dada aos candelabros naturais inerentes aos a-lunos que não reparam em suas luzes.
Enquanto tudo isso é pouco reparado, conglomeram-se inúmeros deslizes e fatos despercebidos que fazem com que os habitantes das cidades iluminadas botem suas cabeças em seus travesseiros com a paz e a calma que os postes trazem para sua rua. Mas, eis um conceito contestável. Diferente daquele único incontestável, do majoritário, mas do único com que esqueceram de avisar às pessoas para se lembrarem: a luz proveniente dos postes se apaga.